Couro curtido de pescado é a nova riqueza da Amazônia

Transformar pele de peixes da região amazônica em couro para produzir itens como bolsas, sapatos, biojóias e até capa para bancos de veículos é uma das atividades com potencial econômico que tem sido pouco explorada por empresários amazonenses.

Em Manaus apenas duas empresas atuam no ramo, que gera produtos vendidos por até R$ 6 mil a unidade.

Atentos a oportunidades de negócios que o couro poderia propiciar, o casal de engenheiros Rose Dias e Aidson Ponciano, criaram a Green Obsession há 13 anos. A empresa fabrica produtos a base de couro de peixes como tambaqui, aruanã, matrinxã, pescada, tucunaré, jaú e surubim.

“Há muito tempo tínhamos vontade de fabricar acessórios, sobretudo femininos, utilizando matéria-prima, antes descartadas pelos frigoríficos”, conta Rose Dias.

Segundo ela, o sonho do casal começou a se concretizar quando os dois tiveram acesso a uma pesquisa do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) que possibilitava a transformação do resíduo. A idéia casou com a filosofia deles de gerar lucros sem impactar o meio ambiente.

A partir de então, com mais seis pessoas trabalhando no design das peças, Rose e Aidson, que também trabalham com fibra de juta, passaram a utilizar o couro curtido.

“Desenvolvemos ainda técnicas de aproveitamento dos resíduos de corte, ou seja, tudo que sobra ao fim do feitio de uma bolsa, por exemplo, é reaproveitado para a confecção de uma nova manta que possa ser usada em outros produtos da loja”, detalha.

Desperdício:

O projeto que interessou o casal foi o de ‘Curtimento de Couro de Peixe’, desenvolvido no Inpa há 19 anos. O pesquisador da Coordenação de Pesquisas em Tecnologia de Alimentos e coordenador do projeto, Nilson Luiz Carvalho, calcula que uma tonelada de pele de peixe continue sendo descartada diariamente na época da alta produção pesqueira.

“As indústrias e comerciantes que trabalham com o pescado jogam essa pele que poderia ser aproveitada para produzir inúmeros itens aqui mesmo, em Manaus”, enfatiza.

Entretanto, o que tem ocorrido, segundo ele, é que empresas interessadas compram o resíduo e levam para transformá-lo em couro em cidades do sudeste do país como São Paulo.

“Lá, acessórios como bolsas são vendido por R$ 3 mil e um par de sapatos pode chegar a R$ 6 mil, uma vez que as peças são exclusivas e a clientela é de classe alta”, exemplifica.

O pesquisador argumenta que as iniciativas em Manaus são poucas por falta de apoio. Segundo ele, surgiram até outras tentativas, mas os empresários desistiram do projeto.

“Os que persistem em geral, compram o couro pronto de outros Estados porque não temos um laboratório equipado adequadamente para processamento dos couros e o  fornecimento a empresas interessadas”, conta.

Amazonenses aproveitam peles de espécies lisas para produtos de moda – foto: Alexandre Fonseca

Amazonenses aproveitam peles de espécies lisas para produtos de moda – foto: Alexandre Fonseca

Fonte [Em Tempo]